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Três Lagoas,26/04/2024

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Os irmãos que fugiram de casa, se perderam e conseguiram voltar 13 anos depois

Fonte: g1.globo.com
Os irmãos que fugiram de casa, se perderam e conseguiram voltar 13 anos depois



Rakhi, de 11 anos, e Bablu, de sete, planejavam ir para a casa dos avós maternos, mas acabaram pegando a direção errada, e se perderam. Neetu Kumari segurando as fotos dos filhos desaparecidos.
Naresh Paras/ BBC
Num dia quente de verão em junho de 2010, duas crianças, chateadas com os pais por terem batido nelas, fugiram de casa na Índia.
Os irmãos – a menina Rakhi, de 11 anos, e o menino Bablu, de sete – planejavam ir para a casa dos avós maternos, que moravam a apenas um quilômetro de distância. Mas acabaram pegando a direção errada, e se perderam.
Eles levaram mais de 13 anos para encontrar o caminho de volta.
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Graças à ajuda de um ativista dos direitos da criança, eles agora estão novamente nos braços da mãe, Neetu Kumari.
“Senti falta da minha mãe todos os dias”, me disse Bablu, que cresceu em orfanatos, pelo telefone. "Estou muito feliz agora que estou com a minha família de novo.”
O vídeo do reencontro, que aconteceu no final de dezembro, mostra Neetu soluçando de tanto chorar ao receber Bablu em casa, abraçando o filho com força e agradecendo a Deus por "me dar a alegria de abraçar meu filho novamente".
Na sequência, Bablu abraça Rakhi, que havia voltado para casa dois dias antes. Embora os irmãos mantivessem contato há alguns anos, eles estavam se encontrando pessoalmente pela primeira vez depois de mais de uma década.
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A separação
A família teve um reencontro emocionante em dezembro, quando Bablu voltou para casa depois de 13 anos.
Naresh Paras/ BBC
Bablu e Rakhi viviam na cidade de Agra, no norte do país, com os pais — Neetu Kumari e Santosh, que trabalhavam como diaristas.
Em 16 de junho de 2010, Neetu, que não havia conseguido encontrar trabalho naquele dia, descontou sua frustração em Rakhi — e bateu na filha com um pegador de metal que usava para cozinhar.
Rakhi e Bablu fugiram então de casa depois que a mãe saiu para resolver algo.
“Meu pai também me batia, às vezes, se eu não estudasse direito, então quando Rakhi veio até mim e disse: Vamos morar com a vovó, eu concordei”, diz Bablu.
Depois que se perderam, um motorista de riquixá deu uma carona a eles até a estação ferroviária. As crianças embarcaram então em um trem, onde foram avistadas por uma mulher que trabalhava em uma instituição de caridade infantil.
Quando o trem chegou a Meerut, cidade a quase 250 quilômetros de onde viviam, ela os entregou à polícia, que os levou para um orfanato do governo.
“Dissemos a eles que queríamos ir para casa, tentamos contar a eles sobre os nossos pais, mas nem a polícia nem os responsáveis do orfanato procuraram nossa família”, afirma Bablu.
Um ano depois, os irmãos também foram separados — Rakhi foi transferida para um abrigo para meninas administrado por uma ONG perto da capital, Nova Déli. Alguns anos depois, Bablu foi transferido para outro orfanato do governo em Lucknow, capital do Estado de Uttar Pradesh.
Os irmãos se conectam novamente
Uma cópia do boletim de ocorrência que os pais de Bablu e Rakhi registraram na polícia em 2010.
Naresh Paras/ BBC
Sempre que alguma autoridade, assistente social ou jornalista importante visitava o orfanato, Bablu contava a eles sobre Rakhi na esperança de se reencontrá-la.
Mas só em 2017 que a estratégia funcionou – uma das novas cuidadoras do abrigo decidiu ajudá-lo, quando ele contou que sua irmã havia sido enviada para um orfanato para meninas mais velhas em algum lugar perto de Nova Déli.
“Ela ligou para todos os orfanatos em Noida e Grande Noida (subúrbios de Déli), perguntando se havia alguém chamado Rakhi. E, depois de muito esforço, ela a encontrou”, lembra Bablu.
“Quero dizer ao governo que é muito cruel separar irmãos. Irmãos e irmãs deveriam ser colocados em centros próximos uns dos outros. Não é justo separá-los”, acrescenta.
Depois que os irmãos se reconectaram, eles costumavam conversar pelo telefone. Mas sempre que o rumo da conversa mudava para “encontrar a família”, Rakhi pensava que isso era improvável de acontecer.
“Treze anos não é pouco tempo, e eu tinha poucas esperanças de que conseguiríamos encontrar a mamãe”, ela me conta.
Já Bablu não tinha dúvida: “Fiquei muito feliz por encontrar Rakhi, e também estava confiante de que agora também seria capaz de encontrar nossa mãe.”
Em um dos lugares em que ele ficou, recorda Bablu, os cuidadores e os meninos mais velhos batiam nele com frequência. Ele conta que tentou fugir duas vezes, mas depois ficou com medo e acabou voltando.
Rakhi, por outro lado, diz que a ONG em que cresceu cuidou bem dela. Pergunto se ela acha que a sua vida teria sido diferente se ela tivesse permanecido na casa dos pais.
“Acredito que tudo o que acontece é sempre para o bem, e talvez eu tenha tido uma vida melhor longe de casa”, avalia.
"Eu não pertencia a eles, mas ainda assim eles cuidavam de mim muito bem. Ninguém nunca me bateu, e fui bem tratada. Frequentei uma boa escola, tive acesso a bons serviços de saúde e a todos os outros recursos que vêm junto com a proximidade de uma cidade grande", acrescenta.
O ativista que reuniu a família
Neetu Kumari caiu no choro quando Naresh Paras a colocou em contato com Bablu por meio de uma chamada de vídeo.
Naresh Paras/ BBC
No dia 20 de dezembro, o ativista dos direitos da criança Naresh Paras, baseado em Agra, recebeu um telefonema de Bablu, que agora vive e trabalha em Bengaluru.
"Você reuniu muitas famílias, pode me ajudar a encontrar a minha?", Bablu perguntou a ele. Paras, que trabalha com crianças desde 2007, diz que este não foi um caso simples.
Os irmãos não se lembravam do nome do pai, e os cartões Aadhaar (documentos de identidade) emitidos pelo governo apresentavam nomes diferentes.
Eles também não tinham ideia de qual Estado ou distrito eram — e o registro do orfanato dizia que eles eram de Bilaspur, uma cidade no Estado de Chhattisgarh, no centro do país. Os telefonemas de Paras para os orfanatos e a polícia, em Bilaspur, não deram em nada.
A investigação só avançou quando Bablu se lembrou de ter visto uma réplica de locomotiva fora da estação de trem em que haviam embarcado. “Eu sabia que deveria ser a estação de Agra Cantonment”, diz Paras.
Ao analisar os registros policiais da cidade, ele se concentrou na delegacia de polícia de Jagdishpura, onde o pai dos irmãos havia apresentado queixa em junho de 2010. Mas, quando foi procurar a família, descobriu que a casa onde moravam era alugada — e eles haviam se mudado.
Rakhi disse a ele que se lembrava que o nome da mãe era Neetu, e que ela tinha uma marca de queimadura no pescoço.
Paras se dirigiu então a um ponto de trabalhadores informais, em Agra, onde diaristas se reuniam todas as manhãs na esperança de encontrar trabalho. Ele não encontrou Neetu, mas alguns dos trabalhadores disseram que a conheciam e passariam a mensagem adiante.
Assim que Neetu Kumari soube que os filhos tinham sido encontrados, ela foi até a polícia, que entrou em contato com Paras.
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Quando Paras visitou Neetu, ela mostrou a ele fotos das crianças e uma cópia do boletim de ocorrência da polícia.
Quando ele a colocou em contato com Bablu e Rakhi, por meio de uma chamada de vídeo, todos se reconheceram.
Neetu Kumari disse a Paras que “se arrependeu de ter batido em Rakhi” — e contou também sobre as tentativas de encontrar os filhos.
“Peguei dinheiro emprestado e viajei para Patna [capital do Estado de Bihar] depois de ouvir que meus filhos haviam sido vistos pedindo dinheiro nas ruas de lá. Visitei templos, mesquitas, gurdwaras (templos sikh) e igrejas para rezar por seu retorno seguro”, ela disse a ele.
No reencontro emocionante com o filho e a filha, ela falou que havia nascido de novo. Rakhi disse que estava se sentindo “em um filme”, porque não esperava mais ver a mãe de novo. “Fiquei muito feliz”, acrescentou ela. Já Bablu afirmou que seus sentimentos eram “mistos”.
"É incrível que Paras tenha levado apenas uma semana para encontrar minha família. Fiquei com raiva da polícia e dos funcionários da ONG que não me ajudaram, apesar dos repetidos pedidos, mas fiquei muito feliz em conversar com a minha mãe. Ela estava chorando, perguntando 'por que você me deixou?' Eu disse a ela: 'Nunca teria deixado você. Eu me perdi'", afirma.




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